Pequi: o fruto polêmico que define a alma do Cerrado

SABORES DO BRASIL

6/27/2025

Quem já provou pequi sabe: ele não aceita meio termo. Ou se ama, ou se torce o nariz. Com sabor marcante e aroma inconfundível, o pequi é um dos alimentos mais simbólicos do Cerrado brasileiro. Ele não é apenas um ingrediente: é uma experiência, um elo com a terra e com as memórias de quem cresceu nas regiões onde ele nasce.

Neste post, vamos explorar a origem, os significados, os usos e as curiosidades que fazem do pequi um verdadeiro tesouro cultural, mesmo que polêmico, da cozinha brasileira.

O pequi nasce do pequizeiro, uma árvore nativa do Cerrado que pode ultrapassar os 10 metros de altura. O nome "pequi" tem origem na língua tupi e significa "casca espinhosa", referência direta à estrutura interna do fruto, que exige atenção ao comer.

A fruta amarela, de polpa oleosa e semente com espinhos finos, é colhida nos meses mais quentes do ano, entre setembro e fevereiro. Presente em estados como Goiás, Minas Gerais, Mato Grosso e Tocantins, o pequi tem papel central nas cozinhas regionais.

De onde vem o pequi?

Sabor forte, identidade forte

O pequi tem um gosto intenso, que mistura notas de queijo curado, azeite e terra molhada. Seu cheiro é tão característico que pode ser sentido mesmo fora da panela, impregnando o ar da casa.

Esse perfil sensorial tão específico faz com que o pequi seja amado com fervor ou rejeitado sem cerimônia. Para muitos, o primeiro contato pode ser um choque. Mas, para quem cresceu com ele, é puro conforto, memória afetiva e orgulho cultural.

Comida de raiz, prato de resistência

No centro-oeste do Brasil, o arroz com pequi é muito mais que um acompanhamento: é símbolo de identidade. Preparado com arroz branco, pedaços de pequi e, muitas vezes, alho e óleo, ele costuma ser servido com frango caipira, quiabo e angu.

Mas o pequi também aparece em outras versões: cozido puro, usado em molhos, em conserva, ou como base para caldos e farofas. Em algumas regiões, o fruto é prensado para a obtenção de um óleo dourado usado em preparos tradicionais.

Comer pequi é um ato de resistência e celebração da cultura alimentar brasileira, especialmente em um bioma cada vez mais ameaçado.

Do mato ao mercado

Apesar de seu consumo tradicional estar atrelado às regiões do Cerrado, o pequi tem ganhado espaço em outras partes do Brasil, seja em conserva, congelado ou em produtos processados.

No entanto, sua exploração comercial deve ser feita com responsabilidade, respeitando o ciclo natural das árvores e os saberes tradicionais de populações extrativistas que vivem do Cerrado.

Pequi e oralidade: ditados, memórias e provocações

O fruto também vive no imaginário popular. Ditos como "quem não gosta de pequi, bom sujeito não é" ou "pequi, ou se ama ou se aprende a amar" mostram o quanto ele mobiliza paixões e brincadeiras.

Há também quem use o pequi para provocar: servir um arroz com pequi é uma forma sutil de testar paladares e celebrar a região. Muitos turistas saem surpresos (ou traumatizados) da primeira experiência com o fruto.

Cuidado ao comer: os espinhos

Um dos traços mais marcantes do pequi é sua estrutura interna. Por dentro da polpa macia e alaranjada, o caroço do pequi é coberto por espinhos finos que podem machucar a boca se mastigados.

Por isso, a regra é clara:não morda o pequi.

Ele deve ser "roído" com cuidado, saboreando apenas a polpa externa. Essa peculiaridade se torna parte do ritual de comer pequi, exigindo atenção e respeito ao alimento.

O Brasil profundo no sabor de um fruto

Mais do que uma fruta, o pequi é um emblema da cozinha de origem, da culinária que não pede licença para agradar a todos. Ele não quer ser gourmetizado: quer ser compreendido. Quer continuar existindo, sendo colhido com respeito e comido com memória.

Em tempos de padronização de gostos e de alimentos industrializados, o pequi segue firme, com sua casca espinhosa e sua polpa intensa, nos lembrando que o Brasil tem muito mais a oferecer do que cabe em uma prateleira de supermercado.